✨ EDIÇÃO 14#
Conhecimento I Estética I Anna Wintour I Chat GPT I BookTok I IA I Capital Cultural
Em uma sociedade repleta de “gostos” e “ideias” semeadas por chatbots e algoritmos, em que o hábito da leitura e termos como “pensamento crítico” são considerados os novos ítens de luxo, estamos tendo a honra de presenciar um novo capítulo na maneira em que produzimos e consumimos cultura. Meu principal destaque, nesta edição, trata da contribuição da indústria editorial e do seu novo impacto na sociedade com o fim da era de Anna Wintour na Vogue americana.
A ESTETIZAÇÃO DA LEITURA
Entre 2020 e 2021, voltamos a nos interessar por livros graças ao boom do hashtag #BookTook no TikTok na pandemia. Com essa ascensão, as comunidades de leitores passaram a ser cortejadas por grandes marcas de moda, reposicionando o mercado editorial. Celebridades como Reese Whiterspoon e Emma Roberts tornaram-se reconhecidas pelos seus clubes de leitura, que também funcionam como um laboratório de oportunidades de adaptações cinematográficas, já que ambas possuem suas próprias produtoras. Entre 2023 e 2024, outras dezenas de celebridades se revelaram amantes de livros. Assim, marcas como Chanel e Miu Miu lançaram seus próprios clubes - afinal, existe símbolo de capital cultural mais poderoso do que o livro que você segura? Independente do intuito, ele já possui a sua própria identidade.
Inteligência: envolve a capacidade de processar informações, aprender, raciocinar, resolver problemas e adaptar-se a novas situações.
Conhecimento: refere-se à informação acumulada, seja através de estudo, experiência ou observação.
O FIM DOS CLIQUES
Outro texto que aborda o tema desta edição é “The End of Publishing as We Know It”, do The Atlantic, que encontrei na newsletter do Margem M sobre “O Fim Da Indústria Editorial Como A Conhecemos”. Antes da chegada das IAs, quando queríamos descobrir algo, digitávamos palavras-chave no Google em busca de links confiáveis e certeiros. Era assim que os sites ganhavam tráfego e relevância. Agora, com ferramentas como Chat GPT e Grok, a resposta já vem pronta — sem precisar abrir mais de duas abas no navegador. O clique virou dispensável. E junto com ele, o tráfego, a audiência… e, talvez, o interesse real por se aprofundar. De acordo com um estudo, o AI Overviews do Google já reduziu o tráfego para sites externos em mais de 34%.
SCROLL THINKING
A linha entre ser inteligente e possuir conhecimento é tênue: viramos mestres de assuntos depois de assistirmos a um vídeo de 30 segundos no Tik Tok.
No texto Gays de Fórum, escrito em parceria com o Float Vibes, escrevo sobre como deixamos de contemplar a arte como experiência sensível — independente de significados —, para nos fixarmos em interpretações projetadas, como se cada obra precisasse justificar sua existência com um discurso. O símbolo venceu o olhar. Estou na minha era Susan Sontag.
Meu ponto não é sobre a democratização da informação, inclusive, o SIGNALS é um resultado disso. Quero dizer que estamos cada vez mais digerindo conteúdos de maneira rasa e sem um real entendimento/compreensão, apenas documentando informações e criando uma falsa sensação de inteligência.
SENSIBILIDADE ATIVA
Nossa forma de pensar é construída a partir do que sentimos e consumimos… ou seja, selecionar com consciência o que consumimos é a expressão máxima da inteligência contemporânea. Outro assunto que tem gerado ótimas análises aqui no Substack envolve o significado do “bom gosto”.
No texto “Taste Is The New Intelligence”, a autora defende que the internet gave us access to everything, so the question isn’t what you know, but how you choose to engage.
Ter gosto é cultivar uma sensibilidade que interpreta o mundo por meio de um filtro intuitivo. Pessoas conhecidas por suas curadorias — seja em playlists do Spotify ou em coleções de arte raríssima — revelam seus olhares em detalhes que vão além do objeto: ele está nas escolhas diárias, na resposta que cada uma dá ao mundo.
O bom gosto é um exercício contínuo. Hoje, é praticado por poucos, mas performado por muitos. Porque exige algo raro: dedicação, repertório, aprofundamento. Capacidades que, aos poucos, estamos desaprendendo — ou trocando por atalhos.
A forma como consumimos conteúdo está em constante evolução e, portanto, os engajamentos e KPI 's também. Curtidas e números de seguidores, que antes eram o principal motif das redes sociais, perdem seu valor quando o público clama por embasamento e autenticidade. Sites que costumavam ser de graça adotaram o desquerido paywall, e o ponto que chama atenção nesse movimento é o fato dessa atitude ser um escudo diante do acesso gratuito do Chat GPT.
Quanto mais difícil o acesso, maior o desejo de consumir e pertencer.
ERA WINTOUR
Assim foi por muito tempo a relação histórica da Europa com a moda, se diferenciando do lado mais mercadológico dos Estados Unidos. Há décadas sendo a maior potência econômica do mundo, os Sates não estão mais conseguindo sustentar o seu próprio “sonho americano". A perda de força da moeda americana é um reflexo da desconfiança sobre a condução política do país. As tensões entre o presidente Donald Trump e o Federal Reserve (Fed), bem como a queda na demanda por viagens em território norte-americano, são alguns dos exemplos.
Nos últimos 37 anos, como editora-chefe da Vogue americana, Anna Wintour se tornou um símbolo cultural, muito maior que a própria revista. E é esse símbolo que destaco nesta edição. Com a saída de Wintour da Vogue, estamos nos despedindo de uma era — independentemente das polêmicas ou das diferentes opiniões que despertou ao longo dos anos. A sensibilidade e instinto do ícone fashion moldaram quase quatro décadas de comportamento, estilo e consumo. Talvez nunca mais vejamos algo comparável.
Será que o novo editor-chefe da revista mais importante do mundo vai se preocupar em mais com viralizar, métricas ou iniciar um novo legado cultural?
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Ótima edição!